sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A Verdade sobre o Capitão Nascimento



Um dos personagens do cinema brasileiro mais aclamados pelo público no últimos anos, Roberto Nascimento ou apenas Capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura, é sim um símbolo. Mas ao contrário do que muitos imaginam, ele não é super herói do povo, ícone da justiça de um povo oprimido, nem muitos dos blábláblás que ouvimos por aí.

Nosso querido Capitão Nascimento, em Tropa de Elite (o primeiro), é o símbolo da miopia política e inversão de valores que vive o povo brasileiro atualmente.





O personagem de Wagner Moura, no primeiro filme, populariza o termo “sistema” que caiu na boca do povão, mas já era a muito utilizado pelos adeptos da Teoria da Conspiração, da qual José Padilha provavelmente é adepto.

O que acontece, na realidade (e também no filme), é que “o Sistema é foda”, como o próprio protagonista costuma entoar durante a película. Tão foda é o Sistema, que o nosso querido Capitão mal percebe que ao invés de combatê-lo, ele passa o filme inteiro sendo apenas uma ferramenta dele. O Capitão não percebe isso e nem nós. Tanto não percebemos que o cultuamos como o justiceiro, o cara que veio limpar os crimes das ruas. Mal percebemos que as mãos dele estão tão sujas quanto as daqueles que ele combate.

O diretor José Padilha não previa que o próprio povo reagiria contra si mesmo, apoiando cenas de tortura policial brutais como o saco, a vassoura e muitos, muitos tapas na cara. E muitos dos suspeitos “interrogados” nem eram criminosos (como o estudante que “financia essa porra” ou o moleque que tem um tênis da hora).




O que as pessoas que viram o filme e aplaudiram a morte do Baiano não perceberam é que, na verdade, a 12 do Matias tá apontada bem pra nossa cara.

Em Tropa de Elite 2, percebendo o apego que seu personagem tinha conseguido no primeiro filme, José Padilha realmente começa a tirar o Capitão da curva do sistema. Mas não deixa passar essa mudança assim, a toa, começando pelo subtítulo do filme.

“O Inimigo agora é Outro” não é por que gente grande começa a comprar briga com o Capitão, mas sim por que o Nascimento é que muda de lado (e a principal evidência é que ele começa a entrar em confronto direto com seu ex-pupilo André, que ainda serve a polícia)!





A inversão de valores é tão grande que aplaudimos quando o Bahiano é executado a sangue frio. A inversão é tão grande que rimos de uma pessoa que implora por “na cara não, pra não estragar o velório” (notem que ele sequer implora pela própria vida). E o nosso “herói” responde pedindo pra trazer a 12, encerrando o filme num lindo discurso sobre ter achado o “cara certo” pra substituir ele (um assassino a sangue frio).

Pessoas que aplaudiram o Capitão Nascimento nas salas de cinema, são os mesmos que pedem justiça pelo sumiço de Amarildo. As pessoas não perceberam que o Amarildo é apenas mais um daqueles “vilões” que foi colocado no saco durante o filme (a diferença é que ele nunca saiu). Que era exatamente sobre isso que Padilha tentava nos alertar no primeiro Tropa de Elite. Como percebeu que foi em vão, ele teve que praticamente desenhar em Tropa de Elite 2. E mesmo assim, o Paes ganhou no primeiro turno…

Enquanto continuarmos a considerar um Capitão Nascimento como herói, cada vez mais estaremos caminhando para que cenas como essas continuem se repetindo:


Para finalizar: Quase todas as favelas do Rio de Janeiro já estão pacificadas. Se estão pacificadas, não tem mais tráfico de drogas. Se não tem mais tráfico, significa que não tem mais drogas circulando no Rio de Janeiro, certo? Han…

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